Notícias da Bahia
A grita mais recente sobre o fim dos jornais começou com a decisão do "Times-Picayune", de Nova Orleans, de sair só três dias por semana. Anunciou-se então, no "New York Times" em especial, que os jornais regionais estavam fadados a desaparecer nos Estados Unidos, tragados pela queda na publicidade que havia se acelerado com a crise financeira de 2008.
Isso foi em junho. Mais alguns meses e foram fechados por aqui "Jornal da Tarde" e "Diário do Povo", títulos paulistas tradicionais, ainda que esvaziados há tempos e de circulação inexpressiva. A histeria chegou então ao Brasil. Mas a justificativa usada nos EUA, de crise nos jornais regionais, não cabe. Que o diga a imprensa baiana, que vive uma pequena revolução desde, precisamente, 2008.
Um ano antes, ACM morreu e seu braço impresso, o "Correio da Bahia", que havia fundado no final da década de 70, perdeu serventia e viabilidade. Defensor dos interesses do ex-governador, dependia sobretudo da publicidade encaminhada por seu grupo, quando no poder, o que não era mais o caso. Ele não passava então de nove mil exemplares diários.
Os herdeiros, representados por ACM Jr. e Luís Eduardo Magalhães Filho, entre fechar, vender ou profissionalizar, arriscaram a terceira. Contrataram a consultoria londrina de Juan Giner, ex-Universidade de Navarra, e mudaram gestão, formato, projeto gráfico e editorial, até o nome, agora só "Correio". Foi às bancas em agosto de 2008, três semanas antes da quebra do Lehman Brothers.
Somados, todos os jornais de Salvador, terceira cidade em população no Brasil, não chegavam então à circulação de "A Gazeta", de Vitória, Espírito Santo, ou do "Jornal do Commercio", de Recife, Pernambuco. Com as mudanças que introduziu e com a demanda da nova classe média, o "Correio" saltou para o primeiro lugar na cidade e no Nordeste inteiro.
Também "A Tarde" começou a reagir à concorrência, sendo hoje o segundo em circulação na região, além de ter lançado em 2010 um novo título, mais barato. Os três, inclusive no preço de capa, compõem hoje em Salvador as três categorias clássicas de jornais: "Massa", o mais popular ou "red top"; "Correio", o intermediário, como o londrino "Daily Mail" ou o "Agora"; e "A Tarde", o mais tradicional --e caro.
"Hoje os jornais refletem a importância do mercado que é Salvador e que é a Bahia", afirma o diretor de Redação do "Correio", Sergio Costa. "O mercado de jornais aqui, como um todo, está efervescente. A guerra aqui está divertida."
Ele se refere às mudanças de "A Tarde", que passa por "processo parecido" de profissionalização e, há três meses, contratou executivos para as áreas de administração e comercial e para a Redação. Coincidindo com os cem anos do jornal, em outubro, a reforma enfrenta problemas que vão da dívida financeira à credibilidade do noticiário e até aos efeitos de um ataque hacker no início do ano.
Em relação ao "Correio", "A Tarde" sempre teve a vantagem de ser independente, o que permite seguir com cobertura política ampla e crítica. Seu concorrente, hoje líder com mais de 60 mil exemplares por dia, contra cerca de 50 mil, aguarda com apreensão a volta de um ACM ao poder --o prefeito eleito, neto do ex-governador-- e mantém a cobertura política no mínimo possível.
Mas os políticos são também reflexo dessa Bahia efervescente. "O governador Jaques Vagner tem outras aspirações, nacionais, e até fala em 2018", diz Vaguinaldo Marinheiro, diretor de Redação de "A Tarde". "ACM Neto também tem pretensões outras. Apesar de estar fora do eixo, a Bahia é curiosa. É a terceira maior cidade, a indústria cultural é muito forte, a própria identidade baiana é forte."
Tanto Marinheiro como Costa relatam avanços também na publicidade e na audiência on-line. Os dois jornais mantêm o acesso "totalmente livre", sem "paywall" (muro de pagamento) e sem aplicativos pagos, por enquanto. "A gente acredita que se deva cobrar por jornalismo de qualidade, mas o momento aqui é de inclusão dos consumidores de informação", diz Costa.
O presidente do Conselho de "A Tarde", Renato Simões, defende as mudanças, a começar da profissionalização, mas trata de ser cauteloso quanto aos resultados. "Nessa tormenta que estamos vivendo, da internet, a gente está tentando respirar, mas ainda com o nariz debaixo d'água. Vamos ver se a gente levanta a cabeça."
A grita mais recente sobre o fim dos jornais começou com a decisão do "Times-Picayune", de Nova Orleans, de sair só três dias por semana. Anunciou-se então, no "New York Times" em especial, que os jornais regionais estavam fadados a desaparecer nos Estados Unidos, tragados pela queda na publicidade que havia se acelerado com a crise financeira de 2008.
Isso foi em junho. Mais alguns meses e foram fechados por aqui "Jornal da Tarde" e "Diário do Povo", títulos paulistas tradicionais, ainda que esvaziados há tempos e de circulação inexpressiva. A histeria chegou então ao Brasil. Mas a justificativa usada nos EUA, de crise nos jornais regionais, não cabe. Que o diga a imprensa baiana, que vive uma pequena revolução desde, precisamente, 2008.
Um ano antes, ACM morreu e seu braço impresso, o "Correio da Bahia", que havia fundado no final da década de 70, perdeu serventia e viabilidade. Defensor dos interesses do ex-governador, dependia sobretudo da publicidade encaminhada por seu grupo, quando no poder, o que não era mais o caso. Ele não passava então de nove mil exemplares diários.
Os herdeiros, representados por ACM Jr. e Luís Eduardo Magalhães Filho, entre fechar, vender ou profissionalizar, arriscaram a terceira. Contrataram a consultoria londrina de Juan Giner, ex-Universidade de Navarra, e mudaram gestão, formato, projeto gráfico e editorial, até o nome, agora só "Correio". Foi às bancas em agosto de 2008, três semanas antes da quebra do Lehman Brothers.
Somados, todos os jornais de Salvador, terceira cidade em população no Brasil, não chegavam então à circulação de "A Gazeta", de Vitória, Espírito Santo, ou do "Jornal do Commercio", de Recife, Pernambuco. Com as mudanças que introduziu e com a demanda da nova classe média, o "Correio" saltou para o primeiro lugar na cidade e no Nordeste inteiro.
Também "A Tarde" começou a reagir à concorrência, sendo hoje o segundo em circulação na região, além de ter lançado em 2010 um novo título, mais barato. Os três, inclusive no preço de capa, compõem hoje em Salvador as três categorias clássicas de jornais: "Massa", o mais popular ou "red top"; "Correio", o intermediário, como o londrino "Daily Mail" ou o "Agora"; e "A Tarde", o mais tradicional --e caro.
"Hoje os jornais refletem a importância do mercado que é Salvador e que é a Bahia", afirma o diretor de Redação do "Correio", Sergio Costa. "O mercado de jornais aqui, como um todo, está efervescente. A guerra aqui está divertida."
Ele se refere às mudanças de "A Tarde", que passa por "processo parecido" de profissionalização e, há três meses, contratou executivos para as áreas de administração e comercial e para a Redação. Coincidindo com os cem anos do jornal, em outubro, a reforma enfrenta problemas que vão da dívida financeira à credibilidade do noticiário e até aos efeitos de um ataque hacker no início do ano.
Em relação ao "Correio", "A Tarde" sempre teve a vantagem de ser independente, o que permite seguir com cobertura política ampla e crítica. Seu concorrente, hoje líder com mais de 60 mil exemplares por dia, contra cerca de 50 mil, aguarda com apreensão a volta de um ACM ao poder --o prefeito eleito, neto do ex-governador-- e mantém a cobertura política no mínimo possível.
Mas os políticos são também reflexo dessa Bahia efervescente. "O governador Jaques Vagner tem outras aspirações, nacionais, e até fala em 2018", diz Vaguinaldo Marinheiro, diretor de Redação de "A Tarde". "ACM Neto também tem pretensões outras. Apesar de estar fora do eixo, a Bahia é curiosa. É a terceira maior cidade, a indústria cultural é muito forte, a própria identidade baiana é forte."
Tanto Marinheiro como Costa relatam avanços também na publicidade e na audiência on-line. Os dois jornais mantêm o acesso "totalmente livre", sem "paywall" (muro de pagamento) e sem aplicativos pagos, por enquanto. "A gente acredita que se deva cobrar por jornalismo de qualidade, mas o momento aqui é de inclusão dos consumidores de informação", diz Costa.
O presidente do Conselho de "A Tarde", Renato Simões, defende as mudanças, a começar da profissionalização, mas trata de ser cauteloso quanto aos resultados. "Nessa tormenta que estamos vivendo, da internet, a gente está tentando respirar, mas ainda com o nariz debaixo d'água. Vamos ver se a gente levanta a cabeça."
Nelson de Sá cobre mídia para a Folha. No jornal, entre outras funções, foi editorialista, correspondente em NY, crítico de teatro e editor da Ilustrada. Por duas décadas, publicou as colunas diárias "Toda Mídia" e "No Ar". Em livro, publicou as coletâneas "Diário da Corte" (Três Estrelas), com textos de Paulo Francis, e "Divers/idade" (Hucitec), com seus textos de teatro. Assina também o blog Cacilda, com a fotógrafa Lenise Pinheiro (cacilda.blogfolha.uol.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário